sábado, 8 de março de 2008

De volta ao prumo

Muitas vezes, na vida, nos pegamos perdendo a direção. É que estamos caminhando há tanto tempo por uma mesma estrada, conhecemos tanto onde ela vai dar, seus atalhos e transversais, que quando enxergamos os novos caminhos que ela nos oferece ficamos confusos, atônitos.

É como se, de alguma maneira, algo tivesse sido tirado do lugar e a nossa bússola já não conseguisse mais nos indicar o norte, o nosso norte (nem o sul).

Nesse momento vagamos desorientados pelo caminho desconhecido. É nesse momento que seguimos (e simplesmente seguimos), sem saber exatamente por onde e para onde estamos indo ou vamos chegar. Na espera de um dia (quem sabe?) nos encontrarmos novamente, acertarmos o passo e voltar a estrada original.

Quando novos caminhos se abrem diante dos nossos olhos, nem sempre é preciso seguí-lo. Mas se o seguimos é importante chegar até o final, percorrer cada metro, apreciar a paisagem, sentir a brisa no rosto, respirar fundo e encher os pulmões de oxigênio. Isso é viver. Mas aí, de repente (não mais que de repente) tudo fica mais claro, natural, transparente. Como se tudo fosse tomado por uma nitidez gritante, quase que palpável. Estamos de volta ao eixo, estamos de volta ao prumo Respiramos fundo e uma sensação de alívio nos enche o coração. Agora é tudo mais simples, é só continuar. Tranquilos, calmos e seguros (principalmente seguros).

Havia perdido o prumo, mas felizmente encontrei. Estou de volta ao meu blog, de volta ao objetivo pra o qual foi criado (nem eu mesma sei qual foi). As próximas postagens serão mais leves, menos incógnitas, menos virtuais e mais reais.
Queria trazer minha vida para o "um gole só", acabei levando "um gole só" pra mim vida e ele foi muito mais competente em deixar marcas, do que o inverso. ô blog(zinho) mais ousado.

Pra brindar a minha volta, e provar que a filósofa medíocre aqui (que tem o seu valor) está realmente inteira , deixo um trecho de uma grande escritora. Muito mais que uma grande escritora, uma grande mulher que ousava revelar-se em seu escrito (assim como eu) e admitia ser um mistério até para si mesma (assim como eu também rs) . Clarice dizia "Sou tão misteriosa que não me entendo.”

Ninguém melhor, nesse dia Internacional da mulher, do quê a grande Clarice Lispector para dizer - de forma muito melhor do quê eu, óbvio - o que se passa em minha mente e (principalmente) em meu coração.


*******************************************************************************


“Estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como
pessoa atual e comum: é uma lucidez vazia, como explicar? assim como um cálculo
matemático perfeito do qual, no entanto, não se precise. Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio. E nem entendo aquilo que entendo: pois estou
infinitamente maior do que eu mesma, e não me alcanço. Além do quê: que faço
dessa lucidez? Sei também que esta minha lucidez pode-se tornar o inferno humano
— já me aconteceu antes. Pois sei que — em termos de nossa diária e permanente
acomodação resignada à irrealidade — essa clareza de realidade é um risco.
Apagai, pois, minha flama, Deus, porque ela não me serve para viver os dias.
Ajudai-me a de novo consistir dos modos possíveis. Eu consisto, eu consisto,
amém.” Clarice Lispector


**************************************************************************

Clarice Lispector me conhece desde pequenininha, só pode.
Salve Clarice!


É isso.

Um comentário:

Vitor Black disse...

Neguinha do meu coração,

Q bom que volta a pisar no chão de sua história....seja bem-vinda de volta ao prumo!

O caminho não nos leva até uma recompensa, o caminho é toda a recompensa de que precisamos. Na última vez que tive que decidir
qual caminho seguir foi difícil, mas encontrei a saída...

Hj amadureci! Tenho a clareza de que vc tbm se encontra neste processo, e mesmo que ainda caminhamos na incerteza é sempre vc que caminha e que decide onde chegar.
Bjs!